Pífano








O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa Francisco Silveira Bueno descreve:

Pífano – 1. Espécie de Flautim militar, com seis orifícios, que os soldados tocavam juntamente com o tambor, e que produzia sons agudos e estridentes. 2. O Tocador deste Instrumento. 3. Espécie de Oboé Italiano, com nove orifícios, usados pelos músicos ambulantes dos Abruzos (Itália). 4. Brás. Instrumento rústico, usado ainda hoje, sobretudo em conjuntos musicais populares. Flauta.

É um Instrumento de sopro, ou aerofone, de embocadura simples (aresta), sem palheta, tocado transversalmente. De corpo cilíndrico (tubo sonoro), com uma das extremidades fechada e outra aberta. Possui seis ou mais furos para os dedos e um para soprar. Geralmente feito de bambu (bambusa vulgaris), pode também ser de PVC ou qualquer material que tenha o formato de um tubo (e certa ressonância). Existem flautas grandes e graves, outras são pequenas e agudas. É comum afinar o pife em “G” (sol maior), com escala diatônica (aquela do dó-ré-mi-fá...), mas pode ter qualquer afinação que o construtor desejar (e as leis da física permitirem). Sua tessitura (alcance da escala) é de duas oitavas e meia. Medindo 42cm de comprimento, 1,5cm de diâmetro e 3mm de espessura (estas medidas variam, principalmente em instrumentos de bambu). Emite um som doce e penetrante. Sofre variações de timbre e altura mediante mudanças na temperatura e umidade do ar.
Acompanha a humanidade desde os primórdios do desenvolvimento musical e provavelmente foi o primeiro instrumento melódico, precedido pela percussão e pela voz. Acredita-se que os aerofones surgiram acidentalmente. Talvez, quando o homem primitivo tentava manter uma fogueira acesa, assoprando através de um bambu, fez soar uma nota e ficou tão intrigado que soprou outras vezes até produzir-la novamente, dando início a primeira “embocadura”. Também, a Observação do vento emitindo som ao passar no bambuzal, Trouxe mais inspiração para a busca do sopro. Há Estudos que relacionam o surgimento dos Instrumentos musicais a partir da busca do homem primitivo para desenvolver seus Instrumentos de caça. A necessidade de adquirir e preparar o alimento pode ter, indiretamente, gerado uma gama de possibilidades para produzir sons. O melhor exemplo disto encontra-se no Arco e flecha que, usado artística e ritualisticamente, tornou-se o “Arco-musical”, que usava a boca do tocador como caixa de ressonância. Alguém colocou uma cabaça e criou o Berimbau. Este, ao acrescentarem várias cordas, deu origem a Harpa (Hoje temos toda uma família de instrumentos que chamamos de Cordofones). No Caso da Flauta, considera-se a Zarabatana (que é uma Arma de caça e proteção, com formato de tubo, utilizada para arremessar dardos, às vezes envenenados, assoprando em uma das extremidades) como possível progenitora. Outro fato aponta para várias descobertas arqueológicas de apitos de osso, muitas vezes encontrados aos pares, feitos dos chifres ou pernas dos animais, mostrando características mantidas até hoje no sistema de Parelha, onde dois Pifes tocam simultaneamente notas diferentes (levando em conta que naquela época não sabiam afinar os Instrumentos do jeito que fazemos hoje).
A Flauta mais Antiga já encontrada saiu de escavações em uma caverna no noroeste da Eslovênia. Foi feita com osso do fêmur de um urso jovem e deu margem a vários estudos sobre a musicalidade do Homem de Neandertal.
No caso do Brasil, foram desenvolvidos muitos instrumentos de sopro pelos Índios, que consideram até hoje (em várias tribos) a Flauta como extremamente sagrada, muitas vezes não podendo ser vista pelas mulheres adultas e sendo guardada na Casa dos Homens (ou Casa das Flautas). Diversas lendas e rituais estão associados a ela. E, na verdade, Há uma passagem que conta que as mulheres eram as guardiãs do instrumento inicialmente e os homens, no anseio de governar a tribo, roubaram-nas e assumiram o poder. Outras falam de Espíritos da Floresta que maltratam as Índias e, devido à fúria dos homens, são caçados, mortos e enterrados, no local onde, posteriormente nascem plantas (geralmente associadas a seus órgãos sexuais) que são usadas para construir os instrumentos sagrados. Com relação ao Pífano, pode-se dizer que não é necessariamente um instrumento indígena. Apesar dos nativos terem enorme aptidão para criar, as pesquisas apontam para uma absorção a um modelo trazido pelo colonizador (Isto não diminui o valor do Índio, nem mesmo torna o Pife menos sagrado). Provavelmente, surgiu no norte da áfrica, com afinação ainda não desenvolvida. Os Árabes aprenderam com os negros e reproduziram à maneira deles, utilizando a escala que temos hoje. Eles ensinaram aos povos germânicos (responsáveis pelo nome “Pfeiffen” [assoprar/assovio] que, Posteriormente, transformou-se em PIFE). Eles foram levados como escravos para a península Ibérica e passaram o conhecimento aos Portugueses que, finalmente, trouxeram para o Brasil. Aqui, os habitantes facilmente assimilaram as Flautas e somaram-nas ao seu arsenal. Com o acréscimo da ginga do corpo e da percussão afro, criou-se um estilo de tocar que passou a representar fortemente nossa cultura.
Atualmente, muitos artistas utilizam Pífanos quando fazem alusão a identidade nacional. Continua sendo um instrumento mais de tocadores do que de músicos, apesar da grande difusão entre grandes instrumentistas.                      Na Área da Educação é de grande valia para Iniciação Musical. Sendo simples de construir, causa maior aproximação entre o aprendiz e o aprendizado e pode transmitir noções de física acústica de maneira muito prática, além da história e geografia percorridas pelo instrumento, a matemática da música, a química do tratamento do bambu e a biologia e controle da praga que ataca o Bambuzal.
 

ELEMENTOS

Para construir uma boa flauta, que dure bastante e tenha um som forte e agradável, é necessário o uso correto de todos os elementos, sem excesso nem falta. Buscando equilíbrio, das seguintes formas:

Terra - O Equilíbrio da terra consiste em cortar o bambu no momento certo, quando estiver maduro. A sabedoria do homem do campo pede que corte as varas na lua minguante, para evitar a presença do caruncho (broca), isto devido à seiva que, nesse momento, esta mais concentrada na raiz.

Fogo - O Equilíbrio do fogo está relacionado com técnicas para curar o bambu, aquecendo-o em fogo, brasa ou fumaça e talvez utilizando óleos ou banhas. Isto causa maior resistência ou mesmo racha aqueles que não estiverem bons. Também altera os elementos presentes, principalmente na casca, garantindo menor variação na afinação e ajudando a evitar bichos.

Água - O Equilíbrio da água começa observando a estação com menor incidência de chuvas. Para cortar os tubos, os meses que não tem “R” (maio-junho-julho-agosto), período de estiagem, são a melhor época. Há uma técnica em que os bambus são colocados dentro da água (de preferência corrente e abundante) durante alguns dias, para fermentarem e lavarem a seiva, alterando o sabor para, outra vez, evitar o caruncho (verdadeiro inimigo de quem mexe com bambu). Depois de terminada, a flauta pode ser lavada. É interessante molhá-la periodicamente, limpá-la e hidratar com óleo para madeira.

Ar - O Equilíbrio do ar está em deixar o bambu secar a sombra e em ambiente bem ventilado, em pé e longe do chão, por pelo menos três meses, antes de iniciar o processo de afinação. Antes de tocar, é importante aquecer a flauta, tampando todos os furos e assoprando fortemente dentro do bocal ou segurando-a junto ao corpo por algum tempo. Ao tocá-la, busque produzir sons que equilibrem as regiões, tentando fazer o grave (naturalmente mais baixo) forte e encorpado, e os agudos suaves e com brilho.
Quanto mais tocar sua flauta, mais ela acostuma com você. Aos poucos as fibras da cana acomodam-se com a vibração produzida pelo sopro do músico, que também desenvolve melhor embocadura (que está em constante transformação). Nenhum instrumento novo está imediatamente pronto, é como se a cana (bambu) precisasse de tempo para assimilar a transformação.
É muito importante saber assoprar o jato de ar com a mesma intensidade durante a abertura de cada furo e sempre tocar desde o primeiro até o último, para verificar a correta afinação da nota.
Para o teste do bocal, verifique se consegue tocar os quatro principais harmônicos (sol grave, sol agudo, ré agudo e o sol mais agudo), com apenas o furos da boquilha aberto.

Quando é terminada a afinação, o pife ainda não está pronto. Precisa ser amaciado, tocando bastante (Para que a fibra acostume com o novo formato e com a vibração). Também ocorre mais um estágio de secagem do bambu. Um Instrumento bem amaciado “canta” melhor. O Verdadeiro timbre surge após este período. Pode ser que depois de alguns anos ocorra uma desafinação (que não deve ser confundida com a diferença entre as embocaduras do fabricante e do músico) Esta pode ser corrigida, dependendo do instrumento.  

Se ficar abandonada, a flauta pode mofar. Caso isso aconteça (mas não deve acontecer) limpe-a totalmente por dentro e por fora, tomando cuidado para não ferir nenhum dos furos e extremidades. Pode-se utilizar água à vontade, mas não a deixe secando no sol, por muito tempo, nem a guarde molhada.